segunda-feira, 13 de novembro de 2017

O isolamento térmico da formiga prateada do Saara

  
  A FORMIGA prateada do Saara (Cataglyphis bombycina) é um dos animais que mais tolera altas temperaturas. No Saara, quando o sol do meio-dia obriga os predadores dessa formiga a procurar sombra, a formiga prateada sai do formigueiro em busca de comida. Ela come outros insetos que não resistiram ao calor intenso.

  Essa formiga tem um sistema de isolamento térmico composto de duas partes: uma cobertura de pelos especiais, que revestem a parte de cima e as laterais do seu corpo; e uma parte sem pelos, que é a parte de baixo do seu corpo. Os pelos, que dão à formiga uma aparência brilhante, são tubos minúsculos, com formato triangular. Os dois lados de fora desse tubo têm ondulações microscópicas. O lado que fica encostado no corpo da formiga é diferente, ele é liso. Esse formato tem duas funções. Primeiro, ele ajuda os pelos a refletir a radiação solar presente na luz visível e nos raios infravermelhos curtos. Segundo, ele ajuda a formiga a eliminar o calor absorvido do meio ambiente. E para que serve a parte sem pelos da formiga? Ela reflete a radiação dos raios infravermelhos médios, que vêm do solo do deserto (A formiga prateada tem outras características que a ajudam a suportar o calor. Por exemplo: proteínas que não são quebradas facilmente com o calor intenso; longas pernas que a ajudam a andar rápido sem encostar na areia quente; e um incrível senso de direção, que a ajuda a encontrar o caminho mais rápido para o formigueiro).

  O sistema de isolamento térmico da formiga prateada permite que ela mantenha a temperatura do seu corpo abaixo de 53,6 graus Celsius, que é o máximo que ela aguenta. Inspirados nessa formiga, os pesquisadores estão desenvolvendo revestimentos especiais, que ajudam a manter o ambiente fresco sem precisar de ventiladores e outros aparelhos.

                                                             50 micrômetros                                                       10 micrômetros

O pouso das abelhas

   

    AS ABELHAS conseguem pousar com segurança em qualquer ângulo de uma superfície. Como?

  Para fazer um pouso seguro, a abelha precisa voar cada vez mais devagar, até atingir uma velocidade quase zero antes de chegar à superfície. O mais lógico seria a abelha calcular a velocidade do voo e a distância do alvo. Daí ela teria que reduzir a velocidade de acordo com esse cálculo. Mas isso é difícil para a maioria dos insetos. Seus olhos não conseguem medir distâncias, porque são muito próximos um do outro e não têm a capacidade de se ajustar para focalizar algo.

  Esse tipo de visão é diferente da visão dos humanos. Nossa visão é binocular, ou seja, conseguimos calcular a que distância um objeto está. No caso das abelhas, parece que elas simplesmente percebem que um objeto fica “maior” à medida que se aproximam dele. Quanto mais rápido a abelha se aproxima, mais rápido o objeto “cresce”. Experiências feitas na Universidade Nacional Australiana mostram que a abelha vai diminuindo a sua velocidade até que o objeto pareça crescer num ritmo constante. Antes de pousar no objeto, a abelha reduz a velocidade a praticamente zero. Assim, ela consegue fazer um pouso seguro.

  Uma revista científica * dos Estados Unidos disse: “Essa estratégia de pouso é simples e pode ser aplicada em várias situações. . . . É ideal para ser usada em sistemas de direção de robôs voadores.”

A pelagem da lontra-marinha



   


   PARA se manterem aquecidos, muitos mamíferos que vivem em águas geladas contam com uma camada de gordura embaixo da pele. Já a lontra-marinha tem outro tipo de isolamento térmico: um excelente “casaco de pele”.


  A lontra-marinha tem mais pelos do que qualquer outro mamífero. São cerca de 155 mil pelos por centímetro quadrado. Quando a lontra entra na água, a pelagem dela retém uma camada de ar perto da pele. Esse ar funciona como um isolante térmico. Ele impede a água gelada de encostar na pele da lontra e roubar calor do corpo dela.

  Os cientistas acreditam que podem aprender muito com a pelagem da lontra-marinha. Eles já tentaram criar vários casacos com pelos sintéticos, variando alguns aspectos como o comprimento dos pelos e o espaço entre eles. Os pesquisadores concluíram que “quanto mais pelos uma superfície tiver, e quanto mais longos forem os pelos, mais seca e mais resistente à água essa superfície será”. Em outras palavras, a lontra-marinha pode se orgulhar de ter um “casaco” bem eficiente!

  Os pesquisadores esperam que, com base em seus estudos, a tecnologia de design e produção de tecidos à prova d’água seja melhorada. Alguns até se perguntam se os nadadores que precisam mergulhar em águas geladas não deveriam usar maiôs peludos, parecidos com a pelagem da lontra-marinha!

As incríveis andorinhas do Ártico





    ANTIGAMENTE, acreditava-se que a andorinha-do-mar-ártica voava um pouco mais de 35 mil quilômetros para ir e voltar do Ártico até a Antártida. Mas estudos recentes mostram que esse pássaro na verdade voa muito mais do que isso.



  Pequenos aparelhos de localização geográfica, que pesam menos que uma tampa de caneta, foram colocados em algumas andorinhas. Esses aparelhos mostraram que algumas andorinhas voaram em média 90 mil quilômetros numa viagem de ida e volta — a mais longa migração feita por um animal. Uma delas voou quase 96 mil quilômetros! Por que os números mudaram?                                                                                       
                                                                                      
  Não importa onde as andorinhas comecem suas viagens, elas nunca voam em linha reta. O desenho acima mostra isso. O caminho que elas percorrem pelo oceano Atlântico forma um “S”. Mas por que as andorinhas viajam assim? Porque elas usam as correntes de ar para poupar energia.
                                              O caminho que as andorinhas percorrem forma um “S”


  As andorinhas vivem mais ou menos 30 anos, e durante esse tempo elas podem viajar mais de 2,4 milhões de quilômetros. Isso é o mesmo que ir e voltar da lua umas três ou quatro vezes! Um pesquisador disse: “É incrível que um pássaro que pesa pouco mais de cem gramas consiga fazer isso.” Além disso, de acordo com o livro Vida na Terra: Uma História Natural, (Life on Earth: A Natural History) a andorinha-do-mar-ártica vê “a luz do dia mais do que qualquer outro animal”, isso porque ela sempre chega aos polos durante o verão.

O formato das conchas

   
    AS CONCHAS protegem os moluscos que vivem dentro delas contra condições difíceis, permitindo que eles resistam a impactos no fundo do mar. Essa excelente proteção levou engenheiros a estudar o formato e a estrutura das conchas. Isso os ajuda a projetar veículos e prédios que protejam quem está dentro deles.

  Engenheiros estudaram dois formatos de conchas: bivalve (formada por duas peças) e espiral.

  Quando as conchas bivalves sofrem alguma pressão do meio ambiente, sua superfície ondulada faz com que o impacto seja direcionado para suas bordas e para seu ligamento, que funciona como uma dobradiça. Por outro lado, as conchas com formato espiral direcionam o impacto para a parte interna e superior delas. Nos dois casos, o impacto sempre é direcionado para a parte mais resistente da concha. Isso diminui a chance de o molusco que está dentro dela sofrer algum dano.


  Pesquisadores fizeram testes para comparar a resistência de conchas de verdade e de imitação. As imitações foram produzidas numa impressora 3-D e tinham mais ou menos o mesmo formato e composição das conchas. O resultado mostrou que a superfície complexa das conchas de verdade faz com que elas suportem quase duas vezes mais impacto do que as de imitação, que tinham um formato mais simples.


  Uma revista científica 
(Scientific American) comentou o seguinte sobre essa pesquisa: “Se um dia você dirigir um carro com formato de concha, além de ser elegante, ele vai proteger bem quem estiver dentro dele.”

domingo, 27 de novembro de 2016

Um encontro inesquecível


  O CORAÇÃO da floresta equatorial da República Centro-Africana esconde uma joia da fauna vista por poucas pessoas. Após uma viagem difícil de carro de 12 horas por trilhas acidentadas, chegamos ao Parque Nacional de Dzanga-Ndoki, uma reserva natural intacta no sudoeste do país, entre Camarões e a República do Congo. Nosso objetivo era conhecer um gorila-ocidental-das-terras-baixas chamado Makumba e sua família.

  Nossa guia, Bara, nos disse para ficar juntos e tomar cuidado com os elefantes, visto que passaríamos por trilhas usadas todo dia por eles em busca de alimento. Mas os elefantes não eram o único perigo. Bara disse: “Se um gorila avançar em sua direção, fiquem parados e olhem para o chão. Ele não vai machucá-los; apenas vai fazer muito barulho. Não olhem nos olhos dele. Eu, pessoalmente, prefiro fechar os olhos.”

 Nós e Bara fomos conduzidos por um rastreador experiente do povo BaAka, considerado um grupo pigmeu por causa de suas características físicas, como a baixa estatura. Para nosso rastreador, o menor indício visual, cheiro ou som era suficiente para detectar a presença dos animais mais sorrateiros da floresta. Cercados por enxames de abelhas irritantes, tentávamos acompanhar o passo do rastreador enquanto ele avançava mata adentro com facilidade.

  Logo nosso rastreador estava nos levando através da floresta virgem onde poucos ocidentais haviam pisado. De repente, ele parou e indicou com seus braços uma grande área perto de nosso caminho. Vimos ali arbustos e grama esmagados onde gorilas jovens haviam brincado, bem como galhos quebrados e sem folhas — sobras de um petisco. Nossa expectativa foi aumentando durante o percurso.

  Depois de uns três quilômetros, o rastreador diminuiu o passo. Para evitar assustar os gorilas, ele fez um estalo bem peculiar com a língua. Podíamos ouvir perto de nós grunhidos graves intercalados com o barulho de galhos quebrando. Bara sinalizou devagar para avançarmos. Com um dedo sobre a boca, indicou que deveríamos fazer silêncio absoluto. Ela pediu que ficássemos agachados e apontou para as árvores. A cerca de oito metros de distância, ali estava ele: o gorila Makumba!

  O silêncio havia substituído os barulhos da floresta, e a única coisa que conseguíamos ouvir era o nosso coração batendo. É claro que nossa preocupação era se Makumba nos atacaria. Ele olhou em nossa direção aparentemente sem fazer muito caso e nos recepcionou com um bocejo. Nem é preciso dizer que ficamos muito aliviados!

  Apesar de o nome Makumba significar “Veloz” na língua aca, o gorila Makumba estava parado, comendo sem pressa seu café da manhã durante todo o tempo que ficamos ali. Próximo de onde estávamos, dois gorilas jovens estavam brincando. Sopo, um filhote de 10 meses de olhos enormes, brincava perto de sua mãe, Mopambi, que o puxava de volta com carinho sempre que sua curiosidade insaciável o levava a tentar se afastar dela. O resto da família estava tirando folhas e talos de galhos ou se divertindo em grupos. Às vezes, eles olhavam para nós, mas logo perdiam o interesse e voltavam a brincar.

  Após uma hora, nosso tempo se esgotou. Parecia que Makumba também tinha percebido isso — depois de dar um grunhido, ele se ergueu com seus braços enormes e sumiu na floresta. Em poucos segundos, a família toda desapareceu. Embora o tempo que passamos com esses incríveis animais tivesse sido bem pouco, jamais nos esqueceremos desse encontro.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Os fios de bisso do mexilhão



 




  OS MEXILHÕES, assim como as cracas, grudam em pedras, pedaços de madeira e cascos de navios. Só que as cracas se fixam totalmente numa superfície. Já o mexilhão fica pendurado nas superfícies, preso por um tufo de pequenos filamentos chamados fios de bisso. Esse método permite que o mexilhão tenha certa mobilidade, o que facilita a alimentação e a migração. Como o bisso do mexilhão, que parece tão frágil, consegue resistir ao impacto das ondas do mar?

 Os fios de bisso são rígidos em uma ponta, mas moles e elásticos na outra. Pesquisadores descobriram que 80 por cento do bisso é composto de material duro e 20 por cento de material mole. Essa é a proporção exata para o mexilhão ficar bem preso a uma superfície. Com essa estrutura, o bisso consegue aguentar o constante vaivém das ondas. 

  O professor universitário Guy Genin analisou essas pesquisas sobre mexilhões e achou o resultado “fascinante”. Ele disse: “A mágica desse organismo está na estrutura inteligente [do bisso], que é ao mesmo tempo rígida e mole.” Os cientistas acreditam que a estrutura dos fios de bisso pode servir de inspiração para várias coisas. Por exemplo, pode ajudar em tecnologias para fixar equipamentos em prédios e em submarinos. Também pode ser usada para ligar tendões a ossos e para fechar cortes cirúrgicos. O professor Herbert Waite, da Universidade da Califórnia, em Santa Barbara, Estados Unidos, diz: “No que diz respeito a formas de aderência, a natureza possui uma coleção infindável de tesouros.”